Testemunho

A minha caminhada por este lado da vida começou há já muito tempo, mas felizmente eu sou já mãe de uma princesa linda, agora com 6 aninhos. No entanto, foi sempre nosso desejo ter mais filhos e esse sonho dá-nos o alento e coragem para tentarmos de novo. Um pouco da minha história...

Recebi o diagnóstico de endometriose, aderências nas trompas e hidrossalpinge após a primeira laparoscopia. Por essa altura, estávamos já inscritos num hospital público, no Porto, apesar de residentes no Baixo Alentejo. Com o diagnóstico fomos encaminhados para FIV. O desconhecimento, a espera demorada e a ansiedade ocupavam os nossos dias. Mas o sonho de ser mãe levou-me à procura de soluções e alternativas... Acabámos por fazer o primeiro tratamento FIV numa clínica privada, em Espanha.

Após uma transferência a fresco e uma TEC, muito dinheiro gasto, uma nova laparoscopia que deixou danos, o sonho continuava a ser isso mesmo... O SONHO de ser mãe... De regresso ao hospital público, a laparoscopia anterior obrigou a nova cirurgia, desta vez para tratar a endometriose e remoção das trompas. Fui submetida a 'menopausa química' e três meses depois o nosso sonho começa a tomar forma de esperança... Após todo o processo de estimulação, punção, ICSI... Ficámos com três embriões, mas só um chegou à transferência.

Era apenas um, mas só precisávamos de 1... E ele superou... Estava grávida, corria o ano de 2010, mês de fevereiro. Vivemos a maior das felicidades, mas nem tudo corria bem.... A translucência da nuca às 11 semanas atirou-nos para a amniocentese, mas felizmente não passou de um susto, cariótipo masculino normal... No entanto, durou pouco essa felicidade. Às 20 semanas algo desperta a atenção - eu retinha líquido, estava inchada, muito cansada... Estava num contexto profissional horrível (inocentemente não quis ficar em casa de baixa). Por intuição de que algo não estava bem fiz uma ecografia 4D... Diagnóstico: hidropsia fetal severa, anasarca... Fiz tudo o que estava ao meu alcance mas perdi a batalha... Passei então a ser acompanhada num hospital público de Lisboa. Após muita relutância da minha parte, confrontada com a dura realidade que o médico me fez encarar ("este bebé não poderá viver e a possibilidade de voltar a tentar estará comprometida se insistir em manter a gravidez") e perante o desespero do meu marido que acreditava que perderia os dois, acabei por aceitar que o meu menino tinha que partir. Nasceu na madrugada do dia 12 de agosto.

Um anjo lindo nasceu e uma parte de mim ali morreu... Nunca me tinha sentido tão ferida, tão vazia, tão impotente... Nunca vou esquecer o seu cheiro, o calor do seu corpo imóvel... Era tão perfeito, tão lindo... Exames feitos, estudos genéticos, resultado da autópsia, e nada! Estava tudo normal com o nosso Diogo. Causa provável: fatores ambientais, externos. Talvez se me tivesse resguardado, se tivesse estado em casa de baixa, fora daquele ambiente profissional... Questões às quais deixei de tentar responder... Vou vivendo com as memórias que o meu menino me deixou... Com a saudade...

Mas o sonho permanecia e, novamente no Porto, onde no ar se respira humanismo, onde o carinho e compreensão são o cumprimento diário, não desistiram do meu sonho. Voltámos à luta, agora com cuidados redobrados e, em janeiro de 2011, iniciámos um novo tratamento. Fizemos a segunda ICSI e hoje temos uma filha linda a iluminar as nossas vidas. A Maria Inês nasceu em outubro, fruto de uma gravidez normal, embora povoada de medos e ansiedade levada ao extremo. Ela é a nossa luz e hoje vivemos os três, felizes. Mas o sonho de ser mãe, de voltar a ser mãe não se apagou. É também o maior sonho da Maria Inês, ter 'uma mana'... Estou com 40 anos e vamos voltar a tentar, apesar da endometriose continuar a fazer das suas e já me ter obrigado a voltar ao bloco operatório, ainda este mês, se tudo correr bem, começo a estimulação. Estamos a ser acompanhados numa clínica privada.

Partilho a minha história porque, apesar de a infertilidade não me ter tornado inferior, muitas vezes me fez sentir menor... Tantas vezes que me questionei se eu não merecia ser mãe, se este era o meu castigo... Porquê...? E foi na partilha de outras lutadoras/es que encontrei alento e coragem, conforto e carinho... Por isso, espero também poder ajudar, ser um contributo, um lugar de esperança.

A todos os que cruzam este trilho, desejo a maior felicidade, a concretização do seu sonho... Esta é uma caminhada difícil, repleta de obstáculos... Mas desistir sem tentar não é uma opção de vida e para a vida!

Beijinhos férteis,
Helena