Testemunho

O meu nome é Patrícia, tenho 37 anos e iniciei a lenta caminhada em novembro de 2011. Desde a adolescência que tenho conhecimento de que engravidar normalmente seria bastante difícil, pois apenas menstruei espontaneamente uma vez. Comecei a tentar descobrir o que se passava de errado comigo quando quase um ano após a única menstruação, esta nunca mais voltou a surgir. Não me vou alongar muito nessa parte, pois foram muitos anos a conviver com exames, consultas e medicação.

Quando eu e o meu marido decidimos ir em frente com o nosso projeto tratámos imediatamente de solicitar consultas de infertilidade para podermos ter acesso aos tratamentos de PMA. Desde então foram cancelados 6 coitos programados (CP) com recurso a citrato de clomifeno e duas inseminações intrauterinas (IIU) que também não chegaram a acontecer. A causa disso tudo reside na Síndrome de Ovários Poliquísticos, que em 7 dos procedimentos anteriormente referidos resultaram numa ausência total de sinais de crescimento de folículos e na última tentativa de IIU, uma resposta exagerada para as características dessa técnica.

Chegada a fertilização in-vitro (FIV) passei pela chamada Síndrome de Hiperestimulação Ovárica. Durante a fase de estimulação tinha perto de 40 folículos na corrida e na punção foram retirados 25. Após a fecundação sobraram 12 embriões de boa qualidade. Naturalmente a transferência não surgiu nesse ciclo devido a uma série de complicações que ainda podiam acontecer e 3 meses depois veio a primeira Transferência de Embriões Criopreservados (TEC). O resultado foi negativo. Foram transferidos 2 embriões e desde aí fiz no total 4 TEC. Daqui a um mês farei a quinta. Em todas as transferências realizadas foram usados 2 embriões. A segunda resultou numa gravidez bioquímica, a terceira foi novamente negativa, a quarta foi uma situação mais delicada. Nesta última, a evolução da hormona beta-hCG foi lenta sendo sugestiva de gravidez ectópica, pelo que foram necessárias oito colheitas de sangue para avaliar a progressão da hormona, bem como algumas ecografias para perceber onde se encontrava o embrião. Às 8 semanas aconteceu o que tinha sido antecipado quase desde o início: nova perda.

De momento encontro-me a tomar antibiótico durante duas semanas após ter feito uma histeroscopia com biópsia e em breve volto à saga dos mais de 200 comprimidos que irei tomar, em apenas um mês, para ver se nas semanas seguintes continuarei com mais umas largas centenas, caso tenha outro positivo e consiga levar uma gravidez até ao fim.

O estado de espírito ao longo dos anos tem passado por diversas flutuações, agora vou-me mentalizando que pouco mais há a fazer. Caso as desvitrificações continuem a correr sempre bem, como tem sido até ao momento, ainda tenho possibilidade de fazer mais duas TEC. Apesar de ainda me ser dada a chance de voltar a tentar nova estimulação na eventualidade das próximas duas transferências não resultarem, acho que não voltarei a insistir e passar por tudo novamente para no fim ficar de braços vazios. A vida não tem sido segmentada ao ponto dos tratamentos estarem completamente dissociados de tudo o resto, é impossível, mais ainda quando já se levam vários anos de luta. Quem me acompanha no hospital diz mesmo que poucas alterações nos protocolos me restam.

A quem me estiver a ler e ainda não atingiu o seu objetivo, não entrem em pânico. Estou a entrar na lista das exceções, não me tomem como exemplo. Foquem-se antes na maioria que é bem sucedida.

Uma das formas de conseguir expurgar o que se vai passando dentro da minha existência foi a criação de um blogue onde tenho relatado o meu percurso e dado a conhecer sentimentos, procedimentos, sucessos e fracassos da minha luta. Se, de alguma forma, conseguir tranquilizar alguma mente assustada com todos os palavrões novos de exames e outras coisas de que nunca ouviu falar, já valeu cada palavra que escrevi. Podem acompanhá-lo em http://seiquechegaras.blogspot.pt

Felicidades a todas(os)!